segunda-feira, 28 de abril de 2014

Almino Affonso, Daniel Aarão Reis e Carlos Fico sobre o golpe e a ditadura (civil-)militar

A Folha publicou, no mês passado, ao menos duas entrevistas interessantes sobre o Golpe de 1964.

Na primeira, o ex-ministro do trabalho de João Goulart, Almino Affonso, aponta o óbvio: que Jango jamais teve qualquer pretensão de dar um golpe comunista. Afirma também que a imensa maioria dos jornais do período deram crédito a esta ideia - e é curioso o quão grande é o número de pessoas que, ainda hoje, também o fazem. No mais, Affonso também critica aqueles que, mais à esquerda, consideram Jango "inapto".

Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedade, de Daniel Aarão Reis
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O historiador Daniel Aarão Reis, da UFF, por sua vez, explica sua preferência pelo termo "ditadura civil-militar", em vez de simplesmente "ditadura militar". Para ele, é indispensável ressaltar o apoio de figuras civis, como as da mídia, para a sustentação do regime. É interessante lembrar que, atualmente, muitos historiadores que preferem o termo "ditadura militar" para o período que durou até 1985 falam em "golpe civil-militar" em referência ao evento de 1964. É o que me parece mais válido, mesmo: o golpe (como também observa o professor Aarão) sem dúvidas conta com o apoio de vários grupos civis, inclusive políticos que pretendiam se candidatar em 1965; mas, com o tempo, muitos destes grupos se afastam dos militares.

De qualquer forma, seria difícil acusar o professor Reis de não levar a sério sua afirmação de que "Na história, devemos nos afastar do militantismo". Afinal, ele chama a atenção para o papel dos civis no golpe e no regime militar mesmo tendo sido, ele próprio, um guerrilheiro de esquerda torturado por estes últimos. Em uma interessante autocrítica, ele afirma que as guerrilhas falharam devido à falta de apoio popular. Além disso, a entrevista também contém seu relato sobre o período de 50 dias em que foi torturado pelo DOI-Codi, seguidos de três meses e meio na prisão. Não à toa, ele conclui criticando a Comissão da Verdade por não poder "vasculhar os porões das Forças Armadas" e ressaltando a importância de debater "o comprometimento com a tortura como política de Estado".

Em vídeo, por fim, há esta entrevista de Fico ao programa Manhattan Connection: Carlos Fico fala sobre ditaduras no Brasil e América Latina.

O Regime Militar no Brasil (1964-1985), de Carlos Fico
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