quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Filme, leitura e exercícios: A Sociedade de Corte; Luís XIV; a Fronda

Esta atividade, sobre a "sociedade de corte" francesa da época de Luís XIV, pode ser feita em uma ou duas partes. A primeira é opcional: a exibição do filme A Ascensão de Luís XIV, de Roberto Rossellini. (Nas minhas experiências, o filme só funcionou bem quando fiz observações paralelas com bastante frequência, pois ele é bastante recheado de diálogos lentos.) A segunda é uma seleção de trechos do clássico A Sociedade de Corte, de Norbert Elias.

Parte 1: A Ascensão de Luís XIV



Caso queira baixar o torrent para exibir o filme para os alunos, clique aqui. (Na página, clique em "get this torrent", não no ícone maior onde se lê "download".)

Parte 2: Texto e Questões


Leia, abaixo, alguns trechos do livro A Sociedade da Corte, publicado em 1933 pelo sociólogo Norbert Elias. Em seguida, responda às questões propostas. 

“Uma das barreiras mais importantes que separam da massa do povo as duas formações nobres na sociedade francesa, a d'épée (de espada) e a de robe (togada), é a proibição legal de os nobres tomarem parte em qualquer empreendimento comercial. Aumentar os rendimentos dessa maneira tem um valor de desonra, levando à perda do título e
da posição.


[...] Em sua juventude, Luís XIV havia sentido na própria pele o quanto pode ser perigoso para a posição do rei quando as elites, sobretudo a noblesse d'épée e os altos funcionários da justiça e da administração, superam seus antagonismos mútuos e se juntam para agir contra o rei (questão 1). Talvez ele também tenha aprendido a partir da experiência dos  reis ingleses, que deviam as ameaças e o enfraquecimento de suas posições à oposição de grupos nobres e burgueses reunidos. Em todo caso, faziam parte das máximas mais rigorosas de sua estratégia de dominação o fortalecimento e a estabilização das diferenças existentes, das contraposições e rivalidades entre as ordens, especialmente entre as elites de cada ordem e, dentro delas, entre os diversos níveis e patamares de sua hierarquia de prestígio e de status.

[...] Assim como a ascensão social pode ser controlada e dirigida a partir da posição do rei [...], a decadência social também pode ser controlada e dirigida, dentro de certos limites, a partir do trono (questão 2). O rei pode aliviar ou evitar o empobrecimento e a ruína de uma família nobre por meio de seu favorecimento pessoal. Ele pode vir em auxílio da família concedendo um cargo na corte ou um posto militar ou diplomático. Pode torná-la beneficiária de uma das prebendas à sua disposição. Pode simplesmente dar-lhe uma quantia em dinheiro, por exemplo na forma de uma pensão. O favorecimento do rei é, por conseguinte, uma das oportunidades mais promissoras que as famílias da noblesse d'épée têm para impedir o círculo vicioso do empobrecimento provocado por suas despesas de representação (questão 3). É compreensível que as pessoas não quisessem abrir mão dessa oportunidade comportando-se de uma maneira que fosse desagradável ao rei.


Nas sociedades pré-industriais, a riqueza mais respeitada era aquela que não havia sido conquistada pelo esforço, aquela pela qual não era preciso trabalhar, portanto uma riqueza herdada, principalmente as rendas provenientes de uma terra herdada. Não o trabalho em si, mas o trabalho com o objetivo de ganhar dinheiro, bem como a própria posse do dinheiro bem recebido, ocupava os níveis mais baixos na escala de valores das camadas superiores nas sociedades pré-industriais. Era o que ocorria com uma ênfase especial na sociedade de corte mais influente dos séculos XVII e XVIII: a francesa. Ao assinalar que muitas famílias da noblesse d'épée viviam do seu capital, [o filósofo] Montesquieu quer dizer, em primeira instância, que elas vendiam terras, e talvez joias ou outros objetos de valor herdados, a fim de pagar dívidas. Seus rendimentos diminuíam, mas a coerção para representar não lhes oferecia nenhuma possibilidade honrosa de limitar suas despesas. Contraíam novas dívidas, vendiam mais terras, sua renda continuava a decrescer. Aumentá-la por meio de urna participação ativa em empreendimentos comerciais lucrativos era não só proibido por lei, como também vergonhoso — do mesmo modo que limitar os gastos com a casa ou com as ostentações. A pressão da competição por status, prestígio e questões de poder era tão forte nessa sociedade quanto a competição pela acumulação de capital e por questões econômicas no mundo das sociedades industriais. Tirando as heranças, os casamentos ricos, as mercês do rei ou de outros grandes nobres da corte, o empréstimo era o meio mais acessível para famílias em dificuldades financeiras manterem o consumo em função do status. Sem tais empréstimos, seria inevitável que uma família ficasse para trás na competição ininterrupta com suas rivais pelo status social, o que prejudicava sua autoestima e sua reputação. Como dissemos, em muitos casos só a benevolência do rei poderia salvar da desgraça completa famílias nobres endividadas”.


1) A qual evento este trecho se refere?
2) Explique esta frase (cuja ideia reaparece várias vezes no texto), deixando clara a relação entre o poder “absoluto” do rei e as necessidades dos vários grupos sociais do período. Explique e exemplifique.
3) O que podemos entender pelo termo “despesas de representação”? Por que, em outro trecho, o autor fala que os nobres sofriam uma “coerção para representar”? Explique e exemplifique.
4) No que diz respeito à "coerção" descrita acima, responda: Você diria que, em nossa sociedade atual, há algum mecanismo parecido? Debata com os colegas antes de responder, apontando semelhanças e diferenças entre as épocas.
5) De que maneira as questões tratadas por Elias são representadas no filme “A Ascensão de Luís XIV”?

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